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Parque Arruda Câmara preserva espécies de crocodilianos que já foram ameaçados de extinção

Já pensou se deparar com um jacaré medindo cerca de 3,5 metros? Com certeza você iria se aterrorizar! Mas, se eu te disser que dá para ver um animal desse bem de pertinho e com toda a segurança aqui em João Pessoa? Ficou curioso? É simples de explicar! Parque Zoobotânico Arruda Câmara – a tão querida Bica. Lá vivem nove crocodilianos de duas espécies, muito bem cuidados, e que dá para encontrá-los sem tomar nenhum susto.

Na Bica há duas espécies de crocodilianos, o jacaré coroa, que é chamado de Paleosuchus trigonatus, e o jacaré-de-papo-amarelo, chamado Caiman latirostris. No Parque, vivem seis animais da primeira espécie, sendo quatro adultos e dois imaturos (em fase de crescimento). O do papo amarelo, são três indivíduos, um casal reprodutor e mais um.

Thiago Nery, veterinário e chefe do setor do zoológico da Bica, detalha as características dos crocodilianos que vivem no Parque. “São animais com características bem diferentes. O jacaré coroa é uma das menores espécies de crocodilianos do mundo, o animal que chega a um metro e meio tem hábitos bem diferentes da maioria dos crocodilianos. Eles fazem toca, cavam, têm o hábito de ficar com o corpo todo escondido e a cabeça para o lado de fora. Não é um animal que consegue se defender com facilidade na natureza, e aí desenvolveu esse hábito de cavar toca, para se esconder dentro”, explica.

Já o jacaré-do-papo-amarelo é um pouco diferente. De grande porte, é o maior entre os que vivem na Bica. “É uma das maiores espécies de crocodilianos do Brasil. “O nosso maior crocodiliano é o jacaré-de-papo-amarelo, que é o alfa do grupo. Eles têm um comportamento de hierarquia, então tem o alfa. O grupo é todo organizado. Ele é o nosso reprodutor, um animal que já passou de 3 metros e 40. O macho adulto pode chegar a 3,5 metros, até 4 metros, dependendo da sua longevidade. Quanto mais eles se alimentam mais crescem. O animal que está no ambiente de cativeiro, por exemplo, naturalmente vai crescer um pouco mais, porque ele tem uma abundância alimentar”, detalhou Thiago Nery.

Hábitos alimentares – Os crocodilianos que vivem na Bica se alimentam de fígado, rim, pulmão e carne bovina. A quantidade é cerca de 20% do peso de cada um. “Eles fazem jejum também. Nos períodos em que a temperatura está mais baixa, o consumo desses animais diminui, exatamente porque o metabolismo fica mais lento. Quando chega esse período mais quente, período de verão, o metabolismo acelera e a gente faz a regulação do alimento, aumentando os dias que ele consome essa carne”, explicou Thiago Nery.

Ameaça invertida – Um jacaré de quase quatro metros parece bem assustador. No entanto, é o animal quem tem tido muito medo do ser humano nas últimas décadas. Dá para acreditar que o jacaré-de-papo-amarelo com todo esse porte, e a possibilidade de viver até 70 anos, estava na lista dos animais ameaçados de extinção? Mas, os defensores da natureza, conhecedores da importância do equilíbrio do ecossistema, trabalharam duro, e ainda trabalham, para defendê-lo. E, neste sentido, a nossa Bica é referência para todo o Brasil.

“Um animal que estava na lista de ameaçados de extinção durante muito tempo, e graças aos zoológicos, aos mantenedores de fauna, a gente conseguiu retirá-lo da lista de ameaçados de extinção, devido aos programas de reprodução. O Parque Zoobotânico Arruda Câmara é uma referência em nível nacional na reprodução de Jacaré-de-papo-amarelo, exatamente pela colaboração que teve nesse período, retirando esse animal da lista de animais ameaçados de extinção na década de 90”, contou o chefe do setor do zoológico da Bica.

Reprodução na Bica – Para fazer com que ele saísse da lista de animais em extinção, foi preciso reproduzir. E quando as mamães jacaré estão grávidas, os cuidados são redobrados. “A nossa fêmea, por exemplo, que agora vai entrar no seu período reprodutivo, já passou por uma triagem, a gente já fez ultrassom para saber se estava tudo bem com o aparelho reprodutivo dela. Nessa triagem, a gente também faz exame de sangue e, quando possível, faz coleta de outros materiais biológicos como urina e fezes”, pontuou Thiago.

É preciso muito cuidado mesmo, já que essas mamães põem muitos ovos. Entre os meses de março e abril, elas já iniciam a postura. “Uma curiosidade sobre jacaré é que quanto mais a fêmea põe, mais ovos ela vai pôr. Significa dizer que quando uma fêmea de jacaré começa a sua postura, ela põe em torno de 14 a 18 ovos. A partir do momento que ela vai pôr, um animal adulto já velho, uma fêmea com 40, 50 anos, ela já consegue fazer postura de mais de 50 ovos”, contou.

Depois que nascem, eles têm um futuro garantido na natureza. “Vale salientar que quando eles reproduzem, ficam à disposição do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para projetos de conservação. Esses filhotes não ficam no ambiente do zoológico a não ser que haja a necessidade de cuidados especiais, senão ele vai ser devolvido em uma área que precisaria dessa espécie e não existe mais”, informou Thiago Nery.

Os que vivem na Bica têm todo um cuidado especial. “Esses animais sempre passam por triagem. A gente tem parceria com as universidades federais e com as universidades particulares da Paraíba, e esses animais passam por avaliações constantes, seja exame de sangue e principalmente as avaliações de imagem”, disse o veterinário.

O especialista concluiu nossa conversa com um recado muito importante para nós, seres humanos. “A população precisa enxergar o Parque como uma grande sala de aula. Você não traz o seu filho para que ele perturbe o jacaré, você traz seu filho para que ele conheça o jacaré, que ele consiga ver qual é o habitat. É mais essa ideia que a gente traz, ver como grandes professores, aqui é uma sala de aula a céu aberto e se a pessoa pode aproveitar com seus filhos, com sua família, ele tem muito de conhecimento ambiental que a Bica disponibiliza diariamente”, encerrou.

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